Na última reunião de 2024, realizada na quarta-feira (11), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, elevando-a de 11,25% para 12,25% ao ano.
O aumento superou as previsões das medianas do relatório Focus e da mais recente pesquisa Projeções Broadcast, que apontavam uma elevação de 0,75 ponto percentual na taxa de juros. O Comitê também sinalizou a possibilidade de novos aumentos de 1 ponto nas duas próximas reuniões, o que faria a Selic ultrapassar a máxima registrada durante o governo Bolsonaro, quando a taxa chegou a 13,75% ao ano.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, diz o comunicado.
O Copom afirmou que a evolução do cenário econômico exige uma política monetária “ainda mais restritiva”. O colegiado destacou o agravamento da desancoragem das expectativas de inflação, o aumento de suas projeções e uma atividade econômica mais robusta.
O órgão declarou, ainda, que tem monitorado de perto “o impacto dos recentes desenvolvimentos da política fiscal na política monetária e nos ativos financeiros”.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, diz o comunicado.
Desde a última reunião, quando a taxa Selic foi aumentada de 10,75% para 11,25% ao ano, todas as variáveis utilizadas pelo Banco Central para determinar os juros apresentaram deterioração.
A alta do dólar para o patamar de R$ 6, após a decepção do mercado com o pacote de corte de gastos do governo Lula, é o principal reflexo da deterioração do cenário. A desancoragem das expectativas se intensificou, e a projeção do mercado para a inflação no segundo trimestre de 2026, que é considerada no planejamento da política monetária, subiu de 3,86% para 4,16%, superando os 3,60% previstos pelo Banco Central.
Essa deterioração já reflete uma trajetória significativamente mais alta para a Selic no relatório Focus do Banco Central, com a projeção para a taxa ao final do ciclo de alta passando de 12,5% para 13,75% nos últimos 45 dias.
Esta reunião marcou a última de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central. Indicado por Jair Bolsonaro, o atual presidente da autoridade monetária enfrentou críticas de membros do governo em relação ao nível da Selic. Gabriel Galípolo, escolhido por Lula para comandar o BC, assumirá a presidência em janeiro de 2025, com mandato até o final de 2028.
Como destacou o Estadão, Galípolo corre o risco de precisar elevar a Selic a um nível superior ao pico alcançado durante o mandato de Campos Neto, quando a taxa chegou a 13,75%. Com a deterioração dos ativos brasileiros nas últimas semanas, os economistas indicam que o cenário se tornou muito mais desafiador desde a reunião do Copom em novembro. Agora, em sua avaliação, o País enfrentará um processo mais árduo e prolongado de elevação da taxa básica de juros.