Abordagem na Terceira Praça do Jacintinho. Foto: Mídia Caeté
Liderando e passando consideravelmente da média do país, Alagoas é o estado onde os jovens negros enfrentam mais risco de serem assassinados em relação aos brancos. Os dados foram divulgados pelo Índice de Vulnerabilidade da Juventude Negra à Violência de 2024 (IVJ-2024) , e demonstram que, se o Brasil já apresenta a letalidade contra jovens negros em um nível alarmante – de 3,2 vezes mais do que jovens brancos- Alagoas extrapola essa gravidade com 26,9 vezes mais letalidade contra a juventude negra.
O indicador demonstrou, ainda, que mesmo havendo uma redução no número de jovens vítimas de homicídio, o índice de desigualdade racial em relação às mortes só aumentou, já que em 2017, a média nacional de jovens negros vitimados era de 2,9 vezes mais em relação a brancos.
Os dados, no mínimo, fragilizam as constantes propagandas do Governo do Estado em relação à diminuição dos índices de violência em Alagoas – afinal, não há uma “universalidade” nesta redução. A notícia mais recente, de setembro deste ano, celebrava uma redução de 20% nos Crimes Violentos Intencionais no primeiro semestre de 2024
O próprio IVJ-2024 destrincha, num nível navional, a análise sobre essa desigualdade racial. “E é neste contexto que é essencial destacar o papel que o mito da democracia racial ainda desempenha e das dificuldades de se explicitar a influência estrutural do racismo na trajetória de vida [e de morte] dos jovens brasileiros”.
Os números sufocantes revelam condições ainda mais complexas ao demonstrarem que, embora ofereça certa proteção, nem mesmo a escolaridade consegue anular as chances de ser vítima letal de racismo no país. De acordo com o IVJ-2024, jovens negros que possuem escolaridade de ensino fundamental tem duas vezes mais riscos de serem mortos do que jovens brancos com a mesma escolaridade. No ensino superior (completo ou incompleto), o índice chega a três vezes mais.
O associado sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Pedro Montenegro, relata como estes dados são reveladores para pensar políticas que possam, de fato, agir sobre a condição.
“Há, em Alagoas, uma questão racial particular que tem sido captada como geradora de vulnerabilidade juvenil à violência por diferentes lentes metodológicas. Os dados indicam que é necessário que, para além da mitigação dos efeitos das variáveis que vulnerabilizam a juventude negra diante da violência, a prevenção seja reposicionada enquanto principal chave de transformação social e da realidade.
Em Alagoas, a despeito da persistência de dados que demonstram a violência contra jovens negros, não há ainda um plano de prevenção – conforme já retratamos nesta reportagem – ou mesmo informações sobre adesão do Estado ao Plano Juventude Negra Viva, atualmente destacado pelo MIR.
Montenegro destaca, ainda, os índices de vulnerabilidade que classificam Alagoas, no topo do país, como um dos oito estados cuja escala de vulnerabilidade é considerada “muito alta”, dado que se estende a toda região.
Tabela IVJ-N 2024
Em comparação com o restante do Brasil, o Nordeste também tem os maiores graus de vulnerabilidade da juventude negra à violência na dimensão “Desigualdade”: seis dos dez piores índices estão em estados da região, sendo eles Alagoas (0,767, o
mais alto do Brasil), Sergipe (0,757), Maranhão (0,737), Pernambuco (0,673), Paraíba (0,665) e Rio Grande do Norte (0,644).
Mais do que “a questão policial”
O Índice de Vulnerabilidade da Juventude Negra à Violência de 2024 (IVJ-2024) foi realizado pelo Ministério da Igualdade Racial, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Banco Mundial e o State and Peacebuilding Fund, e a UNESCO. O documento abrangeu dimensões da vulnerabilide dos jovens brasileiros nos quesitos “mortalidade”; “acesso à escola”; “emprego
e renda”; e “desigualdade”.
Assim, o relatório aponta como o grau de vulnerabilidade nestas dimensões e suas correlações evidenciam como o enfrentamento à violência, e mesmo as políticas preventivas, precisam ir além das agendas que envolvem os aspectos policiais.
“O que o IVJ-N explicita é que a violência não surge de um vácuo e/ou da ação isolada de um grupo social, a exemplo das organizações criminosas. Ela é o resultado de uma combinação de variáveis sociais, ambientais, territoriais e, mesmo, culturais que afetam
de maneira profunda o cotidiano dos indivíduos, em especial da juventude negra.”, descreve o documento. Nesse sentido, um dos exemplos pontua como Alagoas fica no topo dos piores índices de acesso à escola, com 0,895, seguido por Rio Grande do Norte (0,889) e Paraná (0,815).
O documento faz referência direta, ainda, à persistência desses índices.
“Em um achado que merece ser mais bem aprofundado em outros estudos, o estado de Alagoas aparece em todas as edições índices de vulnerabilidade juvenil à violência construídos desde 2009 como aquele em que a vulnerabilidade da juventude negra à violência é maior, mesmo que tais índices não sejam diretamente comparáveis entre si. Há, em Alagoas, uma questão racial particular que tem sido captada como geradora de vulnerabilidade juvenil à violência por diferentes lentes metodológicas”.
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