A pouco mais de um mês para Gabriel Galípolo assumir a presidência do Banco Central (BC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem adotado um tom mais moderado em suas críticas à taxa básica de juros, a Selic, e envolvido seu indicado em reuniões estratégicas sobre temas econômicos.
Em janeiro de 2025, Galípolo assumirá o comando da instituição, substituindo Roberto Campos Neto, cujo mandato se encerra no fim deste ano. Já aprovado pelo Senado Federal, o atual diretor de Política Monetária do BC tem acompanhado agendas no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda, consolidando sua influência em decisões econômicas antes mesmo de sua posse oficial.
Galípolo em destaqueGalípolo esteve presente em reuniões importantes nesta semana, como as realizadas entre o presidente Lula, o ministro da Fazenda Fernando Haddad e outros integrantes do governo. Segundo Haddad, o convite partiu diretamente do presidente, que queria ouvir a visão de Galípolo sobre temas que seriam anunciados.
“Ele participou de toda a reunião, a pedido do presidente”, afirmou Haddad.
Com uma relação próxima a Haddad, Galípolo já atuou como braço direito do ministro no primeiro semestre de 2023, antes de ser escolhido para a diretoria do BC. Sua experiência e alinhamento com o governo têm fortalecido sua posição para liderar a instituição.
Mudança no tom sobre jurosNa última quarta-feira (27), durante um evento com empresários da indústria, Lula suavizou seu discurso sobre a Selic, que atualmente está em 11,25% ao ano. O presidente destacou os bons indicadores econômicos, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), estimado acima de 3%, e o menor índice de desemprego desde 2012.
“Qual é a explicação da taxa de juros estar do jeito que está hoje? Estamos com a inflação controlada. A economia está crescendo. O menor nível de desemprego desde 2012. O maior aumento da massa salarial”, questionou Lula, sem a contundência habitual.
Apesar disso, o presidente não abordou diretamente o principal fator que influencia a Selic: a inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses está em 4,76%, acima do teto da meta inflacionária, que é de 4,5%.
Cenário econômico e SelicA última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2024, que define a Selic para os 45 dias seguintes, ocorrerá nos dias 10 e 11 de dezembro. Em sua última decisão, o Copom acelerou o ritmo de alta e elevou a taxa de 10,75% para 11,25% ao ano, provocando críticas de membros do PT.
O mercado financeiro, por meio do Relatório Focus, prevê que a inflação em 2024 ultrapassará o teto da meta, com o IPCA estimado em 4,63%. A taxa de juros é o principal instrumento utilizado pelo BC para manter a inflação dentro dos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Enquanto Gabriel Galípolo se prepara para assumir a presidência do Banco Central, Lula parece apostar em um diálogo mais construtivo com o setor econômico, reduzindo tensões e reforçando a transição de comando no BC.